Tentação II

Tentação de Jesus, Duccio (1260-1318)
A segunda tentação é menor do que a primeira. Jesus foi tentado a se jogar do pináculo do templo e cair ileso de uma altura considerável. Seria mais uma maneira de chamar a atenção do povo para si. Todos conheciam a profecia de que os anjos protegeriam o Messias até de tropeços. Jesus só sairia sem ferimentos daquela queda se os anjos o protegessem, e este seria um sinal inequívoco da sua messianidade.

A pergunta que se levanta aqui é a seguinte: Como é que eu posso afetar a vida dos outros? Como é que eu posso ser reconhecido como uma pessoa influente? Qual é o caminho mais fácil para eu me tornar um líder? De que maneira eu posso ser influente a ponto de fazer com que as pessoas me ouçam, façam o que eu quero e obedeçam ao que eu mando?

Esta é uma situação pela qual todos passamos, e a tentação maior é procurar o caminho mais fácil? Nossa primeira resposta é usar meios de manipulação, de aliciamento e de coação para alcançar os nossos objetivos. Agindo assim, quantas vezes nós negamos, ferimos e até destruímos aqueles que amamos? Envolvemos aqueles que nos são próximos numa espécie de jogo em que as cartas que temos são a bajulação, o medo, a ira, a culpa, a frustração, usamos de tudo para conseguir o que queremos. Nós usamos também os elementos da nossa fé, nós usamos os elementos religiosos e usamos a tradição da Igreja cirurgicamente, exatamente da mesma forma que Satanás usou as Escrituras para tentar Jesus. Os nossos valores sagrados, os nossos preconceitos tão honrados podem ser usados sem medida, até separar, até negar, até rejeitar, até castigar. Fazemos tudo isso porque é bom para todos. Mas fazemos tudo isso em nome de Jesus. Fazemos tudo isso para a honra e glória de Deus.

Criamos um Talibã de terrorismo espiritual para fazer com que as pessoas nos ouçam e nos obedeçam, embora saibamos que piores crimes da História foram sempre aqueles cometidos em nome do bom e em nome da religião. O desafio da segunda tentação é realizar os nossos propósitos usando o poder de Deus.

Podemos examinar agora a terceira tentação: o transitório, o domínio, o compromisso. O Tentador levou Jesus a um monte de onde ele podia ver todos os reinos do mundo e as suas riquezas. Tudo isso seria dele se ele simplesmente adorasse Satanás. Deixe-me perguntar: O que Jesus iria fazer com tudo isso? Ele veio para conquistar todas as riquezas do mundo para o povo de Deus ou para salvar o mundo?

Depois do cativeiro babilônico Israel nunca mais se reergueu, vivia dominado pelos outros povos, e agora estava sob o poderio de Roma. Justamente neste momento em que o povo estava moralmente arrasado, Satanás oferece o domínio sobre todo o mundo por meio da força, por meio da imposição. Esta foi uma questão que seguiu Jesus até a cruz, mesmo quando pendurado foi tentado a usar o poder para dominar. Satanás insistiu em tentar Jesus a usar a força até o último momento. Mesmo depois de ter sido derrotado três anos antes, no deserto.

Jesus poderia ter levado Israel à sua vitória mais importante? Poderia ter sido o maior herói nacional? Poderia, mas não poderia ter salvado o mundo se agisse desse jeito. O caminho da salvação era o caminho do servo que sofre. Como ele poderia penetrar na nossa consciência para nos ensinar que a vida cristã é fundamentada no serviço, se ele mesmo não escolhesse ser o servo que sofre?


A história da civilização viu inúmeros impérios crescerem e decaírem. Mas aquele galileu simples e humilde, que sofreu da forma mais degradante a maldade dos homens, que morreu inocente e submisso na cruz do Calvário, permanece supremo. Foi essa a sua resposta a terceira tentação, ao apelo ao transitório. A terceira e maior tentação era realizar a vontade de Deus através do poder do mal. (continua)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...