Lutar pelo que vale a pena

Captura de Jerusalém, pintura medieval do século XI
Eu escolhi o branco porque quero transmitir a paz! Escolhi os plantões porque sei que o escuro da noite amedronta os enfermos. Escolhi estar presente na dor porque já estive muito perto do sofrimento. Escolhi servir ao próximo porque sei que todos nós, um dia, vamos precisar de ajuda. Escolhi estudar métodos de trabalho porque os livros são fontes de saber. Escolhi me dedicar à saúde porque respeito à vida!


Assim transcreveu em seu Facebook a linda loira Yasmin, que hoje tem dezenove anos, mas com quem tenho tido a bênção de conviver e a alegria de apreciar seus belos olhos azuis há mais de dezoito anos. A apropriação das palavras acima se deve à confirmação da sua vocação na área de medicina, mas servem também para comprovar o seu total engajamento na carreira que se prepara para exercer, do qual sou testemunha.

Yasmin, como boa parcela da juventude brasileira, milita nessa onda de conscientização política que está nas ruas exigindo melhores condições de saúde, transporte e segurança para todos. Tive a oportunidade de acompanhar o seu despertar cívico e, ao mesmo tempo, conhecer quais são os seus sinceros apelos quanto aos rumos da política no Brasil. Diante disso, tenho que confessar que ela fez rapidamente uma escolha lúcida que me surpreendeu bastante, uma vez que me lembro bem da dificuldade que tive para completar esse amadurecimento em uma época em que o aviltamento dos direitos civis era bem mais flagrante. Faço votos que ela não precise levar a eternidade que eu levei para descobrir que o homem que matou o homem mau era mau também.

Que tempo enorme eu levei para compreender que simples troca do poder por outro poder nunca levou, nunca tem levado e nunca levará a lugar algum. A História está repleta de exemplos que atestam esta terrível sina. Mesmo que esse tipo de troca seja acompanhado das melhores intenções, o seu fracasso é iminente, pois nem mesmo a pureza da mais sublime das religiões foi suficiente para quebrar esta regra. É só nos lembrarmos de que o monte Sião na cidade de Jerusalém, outrora abrigou um importante templo de um deus cananeu, para depois se tornar o centro da religião judaica, transformando-se depois na joia do Cristianismo medieval, para finalmente abrigar a segunda maior mesquita muçulmana. Em absolutamente nenhuma dessas fases o seu povo pode experimentar alguns momentos de paz e de justiça, e hoje é o epicentro de um conflito que é indicado como o mais provável estopim da terceira grande guerra mundial.

Nada tenho contra aqueles que infernizam a vida pessoal e familiar desses nossos políticos. Imagino ser este um caminho bastante viável. Contudo, permanecer na ilusão de que o sucessor destes será melhor e mais justo, isso jamais. Poucos países viveram uma transformação política com aconteceu na mudança do governo do PSDB para o governo do PT. Me lembro bem que este país vislumbrou um amanhecer de diferente, onde a esperança era mais do que uma simples utopia. Mas não demorou muito para que todos vissem o grande fiasco que foi esta visão. Trocou-se apenas seis por meia dusia, com s e sem acento. Trocou-se apenas a latinha, pois a “m” permaneceu inalterada.  

Espero fielmente em Deus que estes jovens venham perceber que a verdadeira revolução tem que nascer antes no coração. Tem que ser motivadas por decisões que corroborem com as palavras transcritas pela Yasmin. Tem que experimentar o sabor amargo da perda, para, enfim, projetar, ainda que nos seus filhos, um pálido adocicado de vitória. Como dizia Vinicius de Moraes: e se perdendo, ser-lhe doce perder.

O coeditor deste blog, o rev. Jonas Rezende, tem uma poesia que não somente fala de perto aos que vivem a ânsia da mudança, como também projeta um raio de esperança para os momentos de decepção nessa caminhada.

Ame para acreditar que os desertos florescerão,
que todas as desgraças terão fim,
que o coração humano tem uma inalienável juventude.

Ame para acreditar que não é ridículo viver como D. Quixote,
Ou sonhar como Francisco de Assis
Que os homens sub-homens se humanizarão novamente no amor
E se farão novamente no amor, irmãos da paz.


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