A fé não é uma só

Firme está o meu coração, ó Deus! Cantarei e entoarei louvores de toda a minha alma. Despertai, saltério e harpa! Quero acordar a alva. Leia o Salmo 108
A oferta da viúva pobre, Bible Study em 2012
Texto do Rev. Jonas Rezende extraído do livro salmos para o Espírito.
O cientista brasileiro Marcelo Gleiser, em entrevista à nossa imprensa, confessou que partilha com seu ídolo, Albert Einstein, um sentimento religioso cósmico, alguma coisa com a veneração religiosa voltada para a Natureza. Ao ler o depoimento do nosso homem de ciência, foi inevitável a lembrança do salmo 19: os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos.

Mas o salmo que agora toma a nossa atenção mostra Davi falando da sua experiência com Deus, que passa pelo que eu chamo de vigorosa fé pessoal, diante do Senhor que concede vitórias ao seu povo: Firme está o meu coração, ó Deus!... Porque acima dos céus se eleva a tua misericórdia... Sê exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória, para que os teus amados sejam livres... Em Deus faremos proezas.

A reportagem de Marcelo Gleiser e o presente salmo de Davi me despertam para o fato de que a fé não é uma só. Ou, para dizer de um modo melhor e mais próximo da realidade, a fé é uma só, mas existem várias formas de aproximação de Deus. Desde o sentimento religioso em face do Universo expresso por Einstein, até a maneira personalizada de crer em Deus, como Pascal expressa em sua vida. Mas há também uma expressão de fé que ganha forma na expressão artística, através de trabalhos de Miguel Ângelo, do nosso Aleijadinho, de Bach ou dos salmistas, com seus poemas e cânticos. Como não distinguir a maneira como os místicos vivem a sua fé na articulação do silêncio? Pessoas como São João da Cruz, Santa Terezinha d’Ávila, São Francisco de Assis, cuja bem-aventurança é o mergulho no amor divino. Mas ainda há uma fé racional, se assim posso dizer, em outros, como São Tomás de Aquino; há a fé combatente de Lutero, Santo Inácio de Loiola e, em especial, os muçulmanos, com suas guerras santas. E há a contemplação budista, a adoração dos elementos da Natureza nos cultos de origens africanas. E a fé tensa, como percebemos no patriarca Jacó, que até com Deus chega a lutar... É mesmo possível dizer que há uma experiência particular de fé, a partir da experiência de cada um.

Quanto a mim, gosto da maneira como sentem os salmistas, esta fé que nasce da vivência com Deus, no dia-a-dia. Por isso me propus este devocionário. Além da inspiração artística, os poetas do Eterno fazem incursões nas diferentes maneiras de expressar a fé aqui mencionadas.

Mas é possível que exista uma fé mais pura e mais bela, a fé dos que não se ligam às orações e liturgias, mas apenas se expressam com simplicidade e absoluta intimidade com Deus, como se, na verdade, fossem seus companheiros de quarto. O Evangelho fala da viúva que deposita a única moeda que possuía na urna do templo. E Manuel Bandeira imagina um desses pequeninos de Jesus, em seu poemeto Irene:

Irene preta.
Irene boa.
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
Licença meu branco,
e São Pedro, bonachão:
Entre, Irene, você não precisa pedir licença...


Até o salmista tem que aprender com Irene.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...