Pedro, tu me amas? II

E perguntou pela segunda vez: — Simão, filho de João, você me ama? Pedro respondeu: — Sim, o senhor sabe que eu o amo, Senhor! E Jesus lhe disse outra vez: — Tome conta das minhas ovelhas! Leia João 21.1-17
Jesus no Mar da Galiléia, Lucas Gassel (1490-1568)
Este texto é um dos mais traumáticos e ao mesmo tempo um dos mais ternos da Bíblia toda. Não conheço outro tão emocionante. É o drama da reintegração de Simão Pedro. O que aconteceu àquele homem precisa acontecer a cada um de nós. É o evangelho em miniatura. Revela a fonte de poder, de amor e de gozo na vida cristã. Revela o quanto Jesus ressurreto deseja nos libertar das culpas e das frustrações que acumulamos ao longo das nossas vidas.

A mensagem central do texto é a seguinte: O amor de Deus nunca falha, por mais que nós falhemos. Pedro tinha construído o seu relacionamento com Cristo baseado na sua própria capacidade, na sua própria competência. Foi exatamente por isso que ele sofreu mais o impacto desse diálogo do que a sua negação no Getsêmani.

Com o que ainda restava de suas forças ele poderia viver, mesmo com a consciência em frangalhos. O que lhe restou de orgulho, de fidelidade e de honra o sustentariam por mais alguns anos. Seu grande erro continuava sendo o de pensar que sua relação com Deus dependia do cultivo das qualidades que iriam ganhar a sua aprovação. Pedro, assim como nós, tropeçava constantemente no seu próprio ego. Se ser adequado é fundamental para ser amado por Deus, o que acontece quando com que é inadequado? Todos nós temos o mesmo problema. Nós projetamos em Deus o que nós conhecemos, e nós conhecemos, como todo mundo conhece bem: o jeito que fomos criados pelos nossos pais. Se fazemos o que é certo, recebemos o prêmio. Até criaram um Papai Noel para isso. Porém, se fazemos o que é errado, a coisa é diferente. Tem que ser desse jeito, eu não conheço outro.

Nosso problema é projetar em Deus o nosso próprio padrão de aceitação. Eu não conheço outro padrão de aceitação. Toda a nossa compreensão de Deus é baseada no amor negociado, no interesse próprio, na troca de referências. Neste padrão, Deus nos amará somente se formos corretos, se formos diligentes, se formos aceitáveis. Nós tentamos de todas as formas vivermos uma vida reta. Claro, por isso estamos na igreja. Tentamos viver uma vida reta para Deus nos amar, em vez de vivermos uma vida reta porque ele já nos tem amado. Diferença entre dia e noite. Por isso vamos ver três situações que podem nos ajudar nessa mudança de padrão de aceitação.

O melhor da mensagem de Jesus é que ele sabia que, por iniciativa própria, não conseguiríamos amar a Deus com todas as nossas forças, com toda a nossa alma e com todo o nosso entendimento, por isso ele veio anunciar que o amor de Deus é dado livremente a nós, antes mesmo de pedirmos. Se é assim, então por que Jesus perguntou a Pedro se ele o amava, se ele já sabia de antemão que Pedro jamais poderia amá-lo suficientemente? Não foi para expor em público a inadequação de Pedro, esse não foi o problema. O objetivo era conseguir que Pedro deixasse Jesus amá-lo. Pedro viveu amargurado aqueles dias por que não podia dizer a Jesus o que sentia. Porque não podia pedir perdão e começar de novo.

Tudo o que Pedro conhecia era o que havia aprendido do Primeiro Testamento: amarás o Senhor teu Deus, com todas as tuas forças, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento, e a teu próximo como a ti mesmo. E ele viu que se encontrava em falta com esses mandamentos. Ele assumiu a culpa básica. Pedro conhecia bem esses mandamentos, mas não sabia como vivê-los. Ele não havia entendido ainda que Jesus viera para prover a motivação necessária para se viver integralmente esses mandamentos. O ministério de Jesus, a sua vida, a sua mensagem, os seus milagres, a sua paixão, a sua morte e a sua ressurreição demonstravam um Deus amando o mundo de tal maneira, que as pessoas, como resultado desse amor, poderiam amar as outras como amam a si, e amar a Deus com todas as forças. Assim poderiam amar a Deus como resposta e não como uma tentativa de qualificação. (continua)

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