O mistério que salva o pecador II

A tua fé te salvou, Romanino
 Leia Lucas 7, 36-50

Simão, o fariseu, ficou escandalizado com a atitude de Jesus com a prostituta. Então, ele recebeu de Jesus a resposta de que os pecadores demonstram mais amor do que os justos porque são recebem o perdão em maior dose do que eles. Mas é preciso entender que não é o amor
daquela mulher que trouxe e que lhe conferiu o perdão, mas sim o perdão que ela recebe de Jesus que multiplicou o seu amor para com ele. O mesmo acontece conosco sempre. Nós não vamos à igreja cantar louvores a Deus para que ele nos ame ou nos perdoe. Nós o louvamos porque ele nos amou e nos perdoou primeiro. Está é a síntese da doutrina da Graça Preveniente de Wesley. O nosso pequeno amor é apenas uma resposta ao seu grande amor que nos alcançou muito antes da nossa iniciativa, até mesmo antes de termos a consciência de que precisávamos dele.

O grande amor da mulher mostra o quão grandemente ela foi perdoada, assim como a falta de amor do fariseu mostra o quão pouco ele foi perdoado. O seu estado emocional, o seu êxtase, a sua alegria, mesmo que demonstrado através de copiosas lágrimas são a prova mais evidente de que algo profundo aconteceu a ela. E não pode haver nada melhor, nada mais profundo, nada mais significativo pode acontecer a um ser humano nesta vida do que ser perdoado. Do que se ver livre das culpas que o assombram.

Mas por outro lado, como é difícil para nós aceitar o perdão de Deus. O perdão de Deus significa a reconciliação apesar da separação, mas é exatamente isso que nós não queremos. A verdade é que nós queremos mesmo é a separação, e o perdão significa a reconciliação apesar de querermos a separação. Significa a comunhão apesar da hostilidade. Aprendi também quando criança a manejar bem a minha hostilidade. Eu gosto de ficar bravo com Deus, eu quero reclamar da vida, eu prefiro dizer como as coisas deveriam diferentes e como as pessoas deveriam se portar, porque o perdão de Deus significa que eu tenho que aceitar as pessoas que são totalmente inaceitáveis, significa que eu tenho que ter comunhão com aqueles que são totalmente rejeitados. Foi assim com aquela mulher na casa de Simão, o fariseu.

Quero agora rapidamente apresentar dois fatos sobre o perdão de Deus. Primeiramente, o perdão de Deus é incondicional. O perdão de Deus tem o caráter de “apesar de”, mas nós, os justos, estamos sempre querendo lhe dar o caráter de “porque”. Deus nos aceita apesar de sermos o que nós somos, e o que nós somos? Somos gente falha, inconstante, egoístas, somos até insuficientes a nós mesmos. Em resumo, somos pecadores, e o perdão de Deus nos aceita apesar de sermos o que somos, e não porque somos bons, porque merecemos ou porque temos feito tantas coisas em seu nome. O pecador não tem motivo algum para mostrar o porquê de ser perdoado. Ele não tem justificativa alguma para requisitar por mérito esse perdão. O perdão de Deus aceita o pecador e não há qualquer condição para isso, nem mesmo aquelas que gostaríamos de impor. Se o perdão fosse condicional ninguém poderia ser aceito, assim como também ninguém aceitaria a si mesmo, e nós sabemos que essa é a nossa situação. Mas mesmo assim nós detestamos reconhecer isso em nossas vidas. Nós detestamos saber que esta é a nossa situação real. O perdão de Deus, como dádiva, é grande demais ser aceito, e como julgamento, ele é humilhante demais para nos conformarmos com ele. Exatamente por isso é que nós queremos contribuir com algo, nós queremos fazer alguma coisa, merecemos e devemos ser perdoados. Nós queremos mesmo é justificar esse perdão e poder dizer porque. Nós queremos enfrentar Deus e dizer: Você pode confiar em mim porque eu sou de confiança. Nós queremos fazer algo que justifique o seu amor por nós. Queremos dizer: Estou limpinho, arrumadinho e sem pecado. Agora você pode me amar. É o recurso extremo daquele que quer fazer algo para ser merecedor. Nós achamos difícil aceitar o perdão de Deus, assim como achamos impossível que Deus nos aceite como somos.

A nossa maior tentação é pensar que a pecadora na casa de Simão foi perdoada porque ela se humilhou. Como gostaríamos de entender que ela foi perdoada porque confessou o seu pecado. Que grande alegria seria para nós saber que Jesus a aceitou porque ela se arrependeu e porque pediu o seu perdão. Porque, porque, porque, nós estamos sempre querendo colocar um porque. Mas esta e tantas histórias que lemos, e tantas outras que vivenciamos dizem que este porque não existe. A verdade é que no perdão de Deus não há porquês, não há condições, nem mesmo as que queremos que aconteçam. (continua)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...