O que é DOM?

Trindade, Esteban Murrillo
Na raiz de todo dom a Bíblia nos ensina a reconhecer uma iniciativa de Deus: Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação – Tg 1,17. Por conseguinte, a primeira atitude que cabe ao homem quando recebe um dom é abrir-se para Deus, para se tornar capaz de usar correta e proveitosamente este dom em favor de si e do próximo.

Se quisermos definir o Primeiro Testamento teríamos que dizer que ele é antes o tempo da promessa do
que efetivamente do dom. Todo o Pentateuco tem como regra apreciar o dom de Deus. Qualquer desvio desta conduta redunda em desobediência, e leva o homem ao exílio, para longe de Deus e de seus dons. Até mesmo a Lei, que para Moisés e seus contemporâneos foi o maior dos dons, se tornaria impotente se o coração que a recebesse fosse mau. Com a construção do Templo, o povo refaz seu conceito de prioridades, e elege esta construção como a sede do poder de Deus, e de onde emana os seus dons. Daí os profetas pregarem a necessidade de uma circuncisão no coração, porque as decepções sucessivas perante a Glória do Templo causaram o retardamento dos dons e da realização da esperança que a promessa encerrava. O Templo servia também para que o homem oferecesse a Deus os seus sacrifícios para compensar a infidelidade para com a Lei.

Em uma referência clara à administração correta dos dons, Deus diz que eles não são dados para serem retidos, e sim compartilhados. Quem aceita o dom rejeita a reciprocidade, pois a recompensa pela administração perfeita do dom também é dada por Deus, e por isso nada deve ser esperado como retribuição: Quem se compadece do pobre ao Senhor empresta, e este lhe paga o seu benefício - Pv 19.17.

Mas é o Segundo Testamento o verdadeiro tempo do dom. O Pai revela os seu amor dando-nos seu Filho, e no Filho Deus dá a si mesmo, pois Jesus é o dom supremo. Na sua fidelidade ao amor do pai, Jesus não veio para julgar e condenar, mas dar a própria vida em favor de nós. É através do seu corpo que é sacrificado e do seu sangue que é derramado, que somos recebidos em uma nova aliança, e nos tornarmos herdeiros das antigas promessas. Juntamente com o dom maior, Deus nos dá uma infinidade de dons, cada um com um propósito específico. Paulo fala de alguns desses dons como sendo a maior conquista de uma vida orientada pelo Espírito Santo de Deus: Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio – Gl 5.22. Fala também que existe uma hierarquia: Entretanto, procurai, com zelo, os melhores dons. E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente – I Co 12.21, e da responsabilidade no uso dos dons que Deus nos dá: ...tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé; se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina esmere-se no fazê-lo; ou o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria – Rm 8.6-8.  

O dom assume intensidade jamais conhecida. A iniquidade que lhe é oposta deve ser combatida sem trégua, e em vez de procurarmos meios de retribuição pelas as nossas falhas, devemos agora fugir delas. Toda e qualquer comedimento em partilhar os dons se torna um escândalo: Daí a quem te pede e não voltes as costas ao que te pede emprestado – Mt 5.42, de graça recebeste, de graça daí – Mt 10.48. Tanto os bens materiais quanto os dons espirituais são riquezas que nos são confiadas como administradores e são exclusivamente para o serviço dos outros. O jovem que almejava a perfeição, Jesus conclama a doar toda a sua fortuna. Jesus nos deu a sua vida e exige que também doemos a nossa em favor do próximo.

O dom realiza uma união em amor e isso é motivo de ação de graças. O doador agradece a Deus tanto quanto, ou ainda mais que o beneficiado, pois sabe que a generosidade não é sua, é uma graça fruto do amor de Deus. É justamente por isso que a máxima é uma verdade incontestável e definitiva: Há mais felicidade em dar do que em receber – At 20.35.

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