O que é PEREGRINAÇÃO? II

Peregrinação a Cythera, Antoine Watteau em 1718
Como foi dito, a reforma do rei Josias extinguiu os santuários locais e fixou em Jerusalém a celebração das três festas. Esta reforma tinha por objetivo congregar todo o povo em um só local, evitando assim as contaminações idolátricas. Contudo, não permaneceu vigente após a morte deste rei, e o Templo de Jerusalém só voltaria a ser novamente santuário único com a sua reconstrução, após a volta do exílio babilônico. E para lá que toda a Palestina, como também todos os judeus que viviam dispersos fora dela, passaram a afluir nas celebrações, principalmente na Páscoa.


Os salmos graduais ou de subida estão sempre presentes nas romarias. O 120 é o que melhor expressa a oração dos peregrinos que subiam a Jerusalém: Sl 120.5 - Ai de mim, que peregrino em Meseque e habito nas tendas de Quedar. Já o salmo 134, era o principal cântico da peregrinação: Bendizei ao SENHOR, vós todos, servos do SENHOR, que assistis na Casa do SENHOR, nas horas da noite; erguei as mãos para o santuário e bendizei ao SENHOR. De Sião te abençoe o SENHOR, criador do céu e da terra!

A experiência da fé e da adoração, além da alegria da comunhão, proporcionava a esperança escatológica do Dia do Senhor, agora concebido não mais como um dia de castigo, mas como dia de salvação, tanto para o povo quanto para os pagãos: Is 2.2 - Nos últimos dias, acontecerá que o monte da Casa do SENHOR será estabelecido no cimo dos montes e se elevará sobre os outeiros, e para ele afluirão todos os povos.

O Segundo Testamento não traz nenhuma novidade nesta matéria. Jesus sobe a Jerusalém com seus pais, aos doze anos para obedecer à lei e no decurso na sua missão sobe também várias vezes. O apóstolo Paulo, ausente por vinte e cinco anos, faz questão de fazer a peregrinação de Pentecostes: At 20.16 - Porque Paulo já havia determinado não aportar em Éfeso, não querendo demorar-se na Ásia, porquanto se apressava com o intuito de passar o dia de Pentecostes em Jerusalém, caso lhe fosse possível.

Mas Jesus anuncia o trágico fim do Templo. Na incredulidade de Israel se consuma a ruptura entre a Igreja e o Judaísmo. A ressurreição de Jesus passa a convergir o culto dos seus fiéis para uma pessoa e não mais para um local. Jo 4.23 – Nem neste monte, nem em Jerusalém... Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores.

O modo de vida do cristão se apresenta agora como a verdadeira peregrinação. Ela é também um Êxodo conduzido por Jesus, que é o novo Moisés, mas que sendo maior que este, tem em si mesmo a plenitude da Palavra de Deus e a realidade plena do seu Reino. Jesus é a montanha de Sião, o sacerdote por excelência, a Assembleia dos Primogênitos, o Cordeiro que tira o pecado do mundo e o verdadeiro e definitivo Templo: Ef 2.19s - Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular.

Salvaguardando-se do comércio absurdo e supersticioso que se faz das peregrinações nos dias de hoje, alguns segmentos da Igreja, principalmente na Igreja Católica, estão apegados demais à história para negar o valor das peregrinações aos lugares que supostamente simbolizam a vida e o ministério terreno de Jesus, ou aos lugares em que se acredita terem acontecido alguma manifestação na vida de alguns santos. A Igreja ainda pode ver nessas reuniões nos lugares de atração uma ocasião para os fiéis se congregarem na fé e na oração. Mas seria providencial que se lembrasse de sempre que a verdadeira peregrinação nesta terra se faz no caminho estreito traçado por Jesus, e em direção a ele, que é caminho, verdade e vida.

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