Parábola das dez virgens

Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão-se apagando. Mas as prudentes responderam: Não, para que não nos falte a nós e a vós outras! Ide, antes, aos que o vendem e comprai-o. E, saindo elas para comprar, chegou o noivo, e as que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas; e fechou-se a porta. Leia Mateus 25.1-13
Parábola das dez virgens, Walter Rane
Esta é parábola na realidade de hoje se chamaria a história verídica dos sem gás. Por que quem de nós já não ficou no escuro sem vela, no meio da rua sem gasolina, do lado de fora do carro e as chaves do lado de dentro e no trabalho sem a mínima disposição? Quem é que já não disse para si mesmo: hoje eu estou sem gás? Com toda a tecnologia que dispomos contra os blackouts da vida isso seria quase que indesculpável, mas no tempo de Jesus não era bem assim. Não dava para prever com exatidão quando uma lamparina iria necessitar novamente repor seu combustível. Então a pergunta é a seguinte: Se nós conseguimos nos perdoar todas as vezes e por todos os motivos que ficamos sem gás, por que, num evangelho de amor indescritível e de perdão incondicional as cinco virgens imprudentes ficaram fora da festa?

Quem primeiramente levantou esta questão para mim foi o saudoso amigo João Wesley. Esta postagem pode ser creditada a ele, bem como a seguinte dúvida: não teria esta parábola um significado maior do que condenar sumariamente cinco moças que na aflição do agito de um grande dia esqueceram na mesa o vidro de azeite? Está mais do que claro que o contexto é o final dos tempos, que, na interpretação de muita gente, virá de supetão, porque teria que sem uma exata reedição da arca de Noé, pegando todo mundo literalmente de calça na mão.

Porém, antes de bater o martelo precisamos considerar alguns aspectos que estão omitidos nesta seletiva parábola. De onde vem o noivo? Que lugar é esse em que as dez virgens ficam à espera? O que vai acontecer de bom para elas nesse lugar? Qual a importância das lamparinas nessa situação? E o principal: onde está a noiva? Por outro lado, quem tem o direito de chegar atrasado ao casamento é a noiva. E é ela também que delibera sobre as suas damas de honra. E ainda há um terceiro aspecto: os casamentos daquela época pouquíssimas semelhanças tem com os casamentos de hoje.

Sem entrar nesses detalhes, eu queria falar do principal motivo da exclusão, que é a lamparina apagada. Na realidade, o texto não fala exatamente em lamparinas, mas em tochas, que é bem maior e bem mais brilhante. A palavra usada aqui descreve o mesmo utensílio usado pelos homens que vieram prender Jesus. Era algo para quebrar a escuridão da noite no campo, e não para ser usado dentro de casa. Elas eram abastecidas com betume de petróleo, e não com azeite.

Parece que a questão aqui é de uma iluminação crucial, onde nem mesmo dez lamparinas seriam suficientes.  Então teríamos na parábola cinco virgens com lamparinas de óleo e cinco outras com tochas de betume. Como Jesus não está contando esta parábola para os seus inimigos escribas e fariseus, e sim para os mais chegados, podemos identificar bem dois momentos da vida cristã. Um dentro da igreja, onde pequenas luzes são suficientes para iluminar a todos. Mas existe também o momento da caminhada na escuridão de um mundo adverso. Existe a hora em que precisaremos de muito combustível para conseguir manter as nossas lâmpadas acesas. Chegará o momento em que precisaremos de muito gás do que o normal.

O texto fala de uma caminhada no escuro, em que fatalmente nos perderíamos, caso nos faltasse o gás necessário. Uma caminhada perigosa, fora do conforto e da contribuição das pequenas luzes dos irmãos da fé. Talvez o maior risco dessa caminhada não fosse exatamente o de batermos na porta certa e ficarmos, por um tempo, do lado de fora, e sim o de batermos na porta errada e ficarmos iludidos por toda a eternidade.

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