Quem conversa com a natureza é o que mesmo?

Então, o SENHOR fez falar a jumenta, a qual disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste já três vezes? Respondeu Balaão à jumenta: Porque zombaste de mim; tivera eu uma espada na mão e, agora, te mataria. Replicou a jumenta a Balaão: Porventura, não sou a tua jumenta, em que toda a tua vida cavalgaste até hoje? Acaso, tem sido o meu costume fazer assim contigo? Ele respondeu: Não. Números 22.28-30
São Francisco e os animais
Sou do tempo em que a Rádio Nacional tinha um programa do galã Álvaro Aguiar, que fazia o papel de Tio Janjão, onde ele contava para as crianças histórias do tempo em que os bichos falavam. Embora a possibilidade de uma realidade assim, além da infância, seja totalmente estranha ao Cristianismo atual, ela ainda é bastante viva e comum entre as religiões primitivas, principalmente as de origem africana, em que a relação do indivíduo ou da comunidade com a natureza é de vital importância, como as tribos pigmeias do Deserto do Kalahari, por exemplo. Todo caçador dessa tribo pede licença antes de caçar a sua presa, como também o seu consentimento para tirar-lhe a vida. Isso após expor toda uma gama de necessidades suas e de sua família para justificar-se esse abate e não ter problemas posteriores de consciência.


No versículo acima, a Bíblia narra a espetacular história de uma mula que fala para tirar o seu dono de um perigo, e de um homem que a responde, com se respondesse a alguém capaz de entendê-lo. Mesmo com as diferentes interpretações do verbo falar, temos que concordar que a mula se expressou a Balaão de uma forma bem compreensível e que ele foi bastante convincente na apresentação do argumento, posto que tanto a mula quanto seu dono saíram vivos desta experiência, para nós, sobrenatural. Digo que é sobrenatural para nós, pois Balaão não pareceu estar surpreso com este atributo dado a mula por Deus.

Há também a narrativa de uma batalha contra os amorreu em que Josué ordena que a lua e o sol se detivessem estáticos durante todo o tempo que durasse a batalha, e assim se fez: Js 10.7-14.

Ao místico e teólogo Francisco de Assis era creditado o poder de conversar com os animais e com os astros. Sua intimidade era tanta que mantinha com eles uma relação próxima, daí a chamá-los de irmão Sol, irmã Lua, irmão Peixe. A tradição conta que ao tentar fazer um sermão para o povo de Alviano, um bando de andorinhas o impedia, fazendo um barulho ensurdecedor. São Francisco, dirigindo-se exclusivamente a elas, disse: Minhas irmãs andorinhas, chegou o momento de eu também lhes falar, pois até aqui vocês já falaram bastante. Ouçam a Palavra de Deus e fiquem todas quietinhas até o fim do sermão do Senhor. Então, para grande espanto e admiração de todos os que estavam presentes, as andorinhas se calaram e nem sequer saíram de seus lugares, até que a pregação tivesse terminado.

Tudo isso pode parecer muito fantasioso e improvável até hora em que nos depararmos com Jesus acalmando a tempestade no Mar da Galileia. Aqueles que estão acostumados com filmes de ficção, sabem que eventos assim são sempre precedidos de grandes manifestações pirotécnicas. Diante disso, seria comum que Jesus fizesse gestos vigorosos que mostrassem todo o seu poder para acalmar as ondas, assim como fez Moisés, de braços erguidos, para abrir ao meio o Mar Vermelho. É exatamente dessa forma que os magos, nos filmes, invocam os ventos e tempestades, bênçãos e maldições. Mas Jesus não fez nada disso, simplesmente falou com o mar, como quem fala a alguém próximo de si: Fique quieto. E o mar o ouviu, tanto que se aquietou.

É bom que se observe que aqueles discípulos, os nossos irmãos do passado, não se impressionaram tanto com a manipulação de um fenômeno natural. Provavelmente eles já tinham testemunhado vários pretensos Messias nesta tentativa. Provavelmente, também, já tinham visto a natureza reagir de forma improvável às várias ordens que lhe eram dadas. Mas naquela hora não. Eles entenderam que quem ali estava tinha poder absoluto. Jesus não era apenas o Messias, o libertador do povo de Israel. Ele era o Senhor do sábado, Senhor dos homens, Senhor da natureza e Senhor do universo. Eles só não sabiam que nome iriam lhe dar dali para frente, e é por isso que se perguntam: Quem é esse que até o vento e o mar lhe obedecem? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...