De graça recebei, de graça dai

Podemos muito bem dizer que existem apenas duas religiões no mundo: a que o homem se move em direção a Deus, e aquela em que Deus se move em direção ao homem. Ambas são ao mesmo tempo correntes e influentes. Ambas podem ser encontradas em quase todos os credos, como também nas subdivisões desses credos. Ambas reivindicam para a exclusividade de ser a verdadeira e única religião.
O Jovem, Hans Holbein (1497-1543)
Ao ver essa acirrada disputa pela hegemonia, o homem que ainda não professa uma religião não tem, de forma alguma, como dar crédito a qualquer um dos lados. Indecisos, do mesmo modo, permanecem aqueles que estão dando os primeiros passos na fé, pois os argumentos de que se valem ambos os lados são complexos e inconclusivos. É aqui que entram as teses do Arminianismo, do Calvinismo, do Pelagianismo, entre outras, que são parte integrante das grandes discussões teológicas através dos séculos.

Temos que admitir que não são, como muitos pensam, completamente infrutíferas e inócuas. Foram essas questões que mantiveram a integridade da fé, principalmente da fé cristã, em situações de extremo perigo. Então, como decidir por uma ou por outra? Diante de uma pergunta fundamental como essa podemos pensar na possibilidade de existir uma realidade em que ambas possam ser estágios ou fases diferentes de uma mesma religião. Algo como Jesus definiu muito bem como porta e caminho. A primeira seria a festa para receber o filho pródigo que volta depois de muito tempo perdido. A segunda, o dia seguinte da festa, onde todas as coisas voltam ao seu cotidiano. Poderíamos muito bem dizer que a primeira fase é aquela em que Deus se move em direção ao homem.

Jesus por mais de uma vez afirmou, e o fez com todas as letras, que não veio para buscar os sãos, mas os doentes; que não veio para os justos, mas para os pecadores; que a sua busca era pelo perdido, e não pelo salvo. A porta de entrada sempre escancarada, os braços sempre abertos e a aceitação incondicional são as características principais desta fase. Paulo, o apóstolo reconhecia: I Tm 1.15 - Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.

Contudo, fica a pergunta: em que momento da vida devemos ter a consciência de que atingimos o segundo estágio? Se no primeiro Deus se moveu em nossa direção, como e quando precisaremos ir em direção a ele? Primeiramente devemos saber que não há como determinar um tempo exato, pois ele se apresenta de forma diferente para cada um de nós. O famoso teólogo do século passado Paul Tillich sempre colocou esse tempo num futuro incerto. Não pergunte pelo seu nome agora; talvez você descubra mais tarde. Não tente fazer coisa alguma agora; talvez mais tarde você faça bastante. Não busque nada, não realize nada, não planeje nada. Simplesmente aceite o fato de que você é aceito. Dizia ele. Mas nunca negou o fato de que este é apenas o começo de um relacionamento sério e produtivo com Deus.

Isso é muito bom, mas nos deixa diante de um enorme problema, pois se a tônica do primeiro estágio é a alegria, a do segundo estágio é a negação, porque ninguém em sã consciência aprova ou gosta do plano que Deus tem para a sua vida. O dia seguinte, conhecido também como a caminhada da fé está repleto de negações e renúncias. Nele temos que fazer as escolhas mais difíceis das nossas vidas: e escolha entre o bem e o bem. A terrível escolha entre duas opções igualmente boas. A escolha que determina qual das duas bênçãos teremos que abrir mão.

A primeira fase da fé é o consolo e a aceitação irrestrita do pecador mais convicto: vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. A segunda fase, ou o outro lado da moeda é a pregação profética que, em nome de Deus, denuncia a iniquidade instalada em nosso mundo: à medida que seguirdes, pregai que está próximo o reino dos céus. Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça dai. Essa é a ordem dada por Jesus, mas se quisermos responder positivamente todos os desafios mais cruciais do evangelho teremos que olhar com mais atenção a profecia de Elias, que diz: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu.

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