O pavio que fumega

Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega. Is 42.3
O pavio que fumega, Dave O'Donnel (?)
Peço desculpas por não ter postado ontem no blog. Dessa vez não foi por falta de tempo ou por doença, como de outras vezes, mas porque eu ainda estava sob o impacto da mensagem para o Natal que preparei, primeiramente para mim, e se tiver oportunidade pretendo dividi-la também com a igreja. Tenho a certeza de que este impacto foi causado menos pelo que consegui escrever do que propriamente pelo que me chegou às mãos para me inspirar quase que na totalidade do texto. Tenho que confessar que quando inicialmente li o texto de Isaías 42.3, não fiz a menor ideia do quão longe ele iria me levar, do impacto que ele iria causar e do estrago que ele iria realizar.

Não tenho como negar que Isaías me fez enxergar a verdadeira luta que existe entre o Reino de Deus e o reino das trevas. Não tenho como negar que Isaías me mostrou o quanto eu tenho preferido lutar as lutas do nosso século em detrimento daquelas que eu fui chamado a lutar, e que são eternas. Isaías simplesmente aniquilou todos os argumentos que até então eu utilizava em minha defesa, como também os que eu usava para atacar certas pessoas ou segmentos da sociedade. Ele disse com todas as letras que o culpado sou eu.

Nessas horas eu vejo que não passo de um pavio que fumega. Eu nunca tinha percebido antes as grandes diferenças entre as lutas que são travadas em nosso mundo. Nunca tinha feito a distinção entre as lutas de classe levadas a cabo pela sociedade e as lutas próprias e exclusivas do Reino de Deus. Sempre pensei que eram a mesma coisa. Sempre achei que me engajando em uma luta qualquer pelos meus direitos, eu estaria também lutando ao lado de Deus em favor de seu Reino. Simples assim. Mas como eu estava errado! Como eu não pude perceber os enormes contrastes? 

Não funciona bem assim no Brasil, aqui é realmente diferente, mas em outros lugares do mundo, para se dar aumento a uma classe há a necessidade de se ter aumento de impostos ou no valor dos serviços. É aí que eu apoio, por achar justas, as reivindicações dos professores, bombeiros, bancários, policiais e aposentados. Mas vou ficar muito indignado se esse aumento sair do meu bolso, pois quero que tudo aconteça e que nada aumente para que isso aconteça. Estou usando o verbo na primeira pessoa, mas na certeza de que não estou sozinho nesse conceito.

Fico realmente perplexo como Isaías enxergou isso tão claramente há 2600 anos. Como é que sem dados históricos, sem as ciências sociais, sem cálculos estatísticos e sem a mídia para lhe colocar a par da situação, ele pode ir tão fundo na detecção da verdadeira raiz do problema. É realmente assombroso que se aproxima do limite do sobrenatural a teologia que Isaías faz da reação de Deus diante de todas as lutas justas e injustas travadas desde sempre em nosso mundo. Com palavras simples e exemplos do cotidiano ele simplesmente disse: olha gente, Deus é bom. Ele quer que o fraco se levante, mas não quer derrubar quem está de pé para que isso aconteça. Ele não quer uma simples inversão de posições, mas a transformação completa de toda a sociedade. Ele quer restaurar e não esmagar. Ele quer reacender e não apagar de vez.

Para essa missão em particular, ele não convoca todas as pessoas. Não são todos os que são chamados a lutar essa luta. Para essa tarefa que, segundo a Bíblia os anjos se sentiriam orgulhosos de realizar, ele convocou apenas os que pretendem ser fiéis a ele. Não é briga pra muita gente não. É uma convocação para poucos. Fica difícil de precisar, mas, pelo que tudo indica, Isaías estava praticamente sozinho, e mesmo assim conseguiu comunicar essa estupenda verdade. Ele anunciou um Deus à frente de qualquer realidade, um Deus “melhor” do que qualquer bondade, um Deus mais justo do que qualquer justiça.

É justamente no Natal que a profecia de Isaías fala mais alto. Enquanto a humanidade espera que mudanças radicais aconteçam, apenas porque a letra de uma música ano após ano, Natal após Natal tenta nos fazer crer que hoje é o novo dia de um novo tempo, Isaías vem nos desafiar a colocarmos as nossas esperanças em um Deus que nos ama, e que somente através do compartilhamento desse amor, mudanças poderão ocorrer. Isaías continua dizendo que Deus não esmagará a cana quebrada, e nem apagará a torcida que fumega. Para que o Natal cumpra com seu objetivo basta que apenas uns poucos creiam firmemente nisso.

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