Salmos para o coração e o Espírito

Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti. Leia Salmos 119.1-16
A tua Palavra escondi, www.tribarte.blogspot.com.br
Texto do livro Salmos para o Espírito do Rev. Jonas Rezende
Fasciite necrosante é o nome de um processo infeccioso provocado por um estreptococo do grupo A. Deu para entender? Vou então usar a nossa linguagem corrente no dia-a-dia. Trata-se de uma bactéria que começou a ser detectada, segundo me parece, em 1994, na Inglaterra, e logo foi batizada popularmente de bactéria devoradora de carne, porque devora três centímetros de tecido humano por hora, provocando a morte em 24 horas. Sempre que se fala desse assunto, a notícia provoca pânico. Se o problema não for resolvido cientificamente, essa doença é mais grave que a AIDS.


Mas eu queria usar a ação terrível da bactéria como uma parábola da nossa época, em que o ser humano é vítima de uma antropofagia, mais feroz do que a retratada por Mário de Andrade, depois de 1922. Vivemos a crise da nossa civilização e a misteriosa doença torna-se símbolo de nos­sa sociedade que mói o ser humano na maquinaria implacável do cotidiano.

É claro que o presente salmo não fala de bactérias. Mas celebra com alegria a salvação do povo: rendei graças ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre... O Senhor está comigo, não temerei. Que me poderá fazer o homem?... Me­lhor é buscar refúgio no Senhor do que confiar no homem... O Senhor é a minha força e o meu cântico, pois ele me salvou... a destra do Senhor faz proezas... Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele... O Senhor é Deus, ele é a nossa luz. É belo o salmo. Agora, se espremermos todas essas expressões do salmista, o resultado é vida. Isto é, o amor divino faz com que a morte se renda diante da vida. Como não lembrar a visão de Ezequiel? O monturo de ossos secos volta à vida, conhece a ressur­reição, no vale sombrio. E, a meu ver, a visão profética fala da esperança de um eterno renascimento no mundo que atravessa cri­ses cíclicas, com dimensões pessoais, sociais e universais.

Uma pista para trabalharmos em comum está no livro O ocidente é um acidente - por um diálogo das civilizações, do filósofo francês Roger Garaudy. Embora julgue o livro muito severo e, em algumas passagens, injusto com o Ocidente, acredito que Garaudy nos ajuda a buscar saídas através da contribuição dos povos em geral, na proporção em que o nosso universo cristão ocidental se torna um tanto provinciano.

Mas o vale de ossos secos, da visão profética de Ezequiel, bem pode ser também o nosso coração, quando abandonamos os sonhos e a esperança sempre juvenil. Mas podemos celebrar com a alegria de nosso salmo, porque Deus nos faz participar do processo de res­surreição diária e da eterna ressurreição. Para o teólogo Bultmann, o importante não é se a ressurreição aconteceu, historicamente, na vida de Jesus, mas crer que a morte de Jesus é vida para o ser huma­no. Não é importante que tenha acontecido algo especial na vida de Jesus, mas saber que, historicamente, aconteceu algo na vida dos apóstolos. E verdade que, na pregação da Igreja tradicional, a ressurreição é um fato para a fé, um fato que precisa ser celebrado. Mas acho interessantes as observações de Bultmann.

O mais importante, porém, é que a nossa esperança está enraizada em Deus. Assim como o poeta do Eterno, também esperamos que a morte se renda diante da vida. E inspirados por Santo Agostinho, podemos também dizer: apesar de absurdo, nós cremos.

Você concorda?






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