Pentecostes, o que foi e o que é

O Pentecostes de Giotto
Leia Atos 1 e 2 (é extenso mas vale a pena)
O que era o Pentecostes judeu?  
Festa da colheita. Ex 23.14 -17
Festa dos pães ázimos.
Festa da população masculina.
Presume-se que já houvesse uma festa antes da Páscoa.
Festa da renovação da aliança. 
Cinquenta dias após a Páscoa.
Divisão entre os piedosos e os que não estão nem aí.
Um bom motivo para ir ao Templo.

No que se tornou o Pentecostes cristão?        
O início do cristianismo.
A inauguração da igreja.
A divisão entre judaísmo e cristianismo.
A divisão entre os batizados com água e os batizados no Espírito Santo.
A seção entre o tradicional, o renovado e os subsequentes.
Aquilo que determina o que é racional e emocional.
Entre nós e eles.
Um bom motivo para ir à igreja.

Se o Pentecostes é isso, não temos motivo algum para comemorar. Parece-me mais o começo do fim, a inauguração do cisma e das inúmeras denominações que encontramos no Cristianismo de hoje. O que foi de fato aquele dia que ficou conhecido como Dia de Pentecostes? Eu estou entrando num buraco que não tenho certeza se vou conseguir sair dele. Mas convido a vocês a irmos em frente, a tentar sair do buraco que os nossos antepassados recentes na fé nos meteram.

O texto de Atos 1 diz que os doze estavam reunidos no mesmo lugar. Pelas circunstâncias em que se encontravam podemos dizer que eles estavam escondidos no mesmo lugar. Então, como que do nada surgem fenômenos indescritíveis, para o qual eles não tinham palavras, os quais, na sua tosca maneira de interpretar, foram confundidos simplesmente com o som de um vendaval que os doze estavam ouvindo. Depois disso, línguas parecidas com labaredas de fogo desceram sobre eles, e aí os doze ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, o que equivale a dizer que cada um passou a falar um idioma diferente. Segundo os acontecimentos seguintes devemos concluir que os doze saíram do lugar em que se encontravam, e se misturaram com a multidão de “homens piedosos de todas as nações debaixo do céu”. Lucas, então, refere-se a uma voz, chamando-a de “aquela voz”, que, embora não houvesse sido citada até então, todos os presentes ouviram. Exatamente neste ponto reside uma questão que divide os teólogos há muito tempo. Enquanto uns enfatizam o falar, e falar em outras línguas, justificando o carisma da glossolalia, outros já enfatizam o milagre de ouvir e entender, um dom que atingiu a todos permitindo que ouvissem o que os doze diziam, mas cada um entendendo em sua própria língua. O milagre que seria conhecido hoje como tradução simultânea. Para o bem da verdade o texto não prioriza nenhuma das duas hipóteses, parece que concorda com ambas. Já estamos no buraco, agora vamos nos meter nessa briga de cachorro grande.

Apesar de tudo, o texto deixa claro que aconteceu algo tão extraordinário que fez com que aqueles que estavam covardemente escondidos fossem para as ruas falar aberta e corajosamente um discurso considerado pelo judeus uma blasfêmia passiva de apedrejamento, e pelos romanos uma subversão passiva de crucificação. Esta é a primeira transformação que o Pentecostes processa: transformar covardes em corajosos, acuados em destemidos. Pessoas que com medo dos judeus e dos romanos sequer mencionavam que haviam estado com Jesus, agora estavam pregando a sua palavra, falando a todos sobre as maravilhas de Deus. Há uma transformação aqui na forma e no conteúdo. Na forma de agirem e no conteúdo de suas mensagens. Mas não foi só isso. O texto diz que as mudanças puderam ser notadas não somente nos doze reclusos sobre os quais desceram as línguas de fogo, mas também sobre toda a multidão que os ouvia. Não foram somente aqueles doze que estavam secretamente reunidos que foram transformados pelo Pentecostes, mas sobre todos os presentes independentemente da sua origem e credo. Lucas não fala apenas de judeus, mas se refere também à presença de homens piedosos de todas as nações debaixo do céu Então, para começo de conversa vamos tirar da cabeça esta ideia de que o Pentecostes vem ratificar a existência de grupos fechados, de comunidades de eleitos e de privilegiados pelo Espírito de Deus.

O que aconteceu ali não é propriamente o que podemos chamar de inauguração da igreja, e muito menos início do cristianismo. Aliás, esta nomenclatura de cristão tornou-se conhecida através de uma fonte no mínimo tendenciosa. Lucas tinha fortes tendências contrárias ao judaísmo. Observem que no livro de Atos, quem coloca empecilhos ao progresso da fé cristã são sempre os judeus, e nunca os romanos: Pedro estava pregando, e foi preso pelos judeus. Paulo estava ensinado, e foi expulso das sinagogas pelos judeus. Até o martírio de ambos realizado pelos romanos, foi considerado um erro do sistema legal romano, mas a culpa deste erro foi exclusiva dos judeus. Vamos devagar com este nome de cristão. Eu penso que Cristo jamais aceitaria ser chamado de cristão. Vamos devagar com este orgulho separatista. O que se celebra no Pentecostes é uma nova maneira do Espírito de Deus se comunicar, e esta maneira extrapola grupos, fica distante dos lugares fechados e de forma alguma fomenta a formação de comunidades seletivas. Está certo que a igreja nasceu a partir deste acontecimento, mas não propriamente no Dia de Pentecostes. Neste dia todos estavam tão extasiados que ninguém pesou em formar igreja alguma.

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