Alegrem-se pela coisa certa

Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus. Lucas 10.20
Os setenta e dois discípulos, Ferdinand Olivier 1785-1841
A estrada pela qual caminham os discípulos de Jesus não está, como muitos nos querem fazer crer, pavimentada somente de percalços, perseguições e aflições. Logicamente que
também não é este mar de prosperidade, saúde e regozijo que a maioria dos pregadores atuais promete. Contudo, a pregação do evangelho traz também alegrias indescritíveis, e, juntamente com elas, uma visão bem mais clara do Reino do Céus e do propósito de Deus em salvar o mundo. Podemos detectar quais são os vários motivadores desta alegria. Dentre estes poderíamos citar rapidamente, a alegria de Filipe ao ouvir a confissão de fé do eunuco, a alegria de Paulo e Silas pela conversão eufórica do carcereiro, de Pedro pela indignação de Simão o mágico quando confrontado com o poder do evangelho, e outras tantas narradas pela Bíblia.

O texto Lucas descreve a inusitada alegria dos setenta ou setenta e dois enviados de Jesus às várias cidades da Palestina, quando atestaram que, diante do propósito da missão até as mais nefastas representações do mal lhes eram submissas e devidamente afastadas. Este texto não serve como parâmetro de causa e efeito, porque o padrão normal da obtenção de resultados quase nunca é imediato, quando falamos da pregação do evangelho. Mas o fato é que aquele grupo teve este privilégio: o de ver o resultado da sua missão na prática e em tempo real. Privilégio que muitos evangelistas do passado e de hoje pouco tiveram. A missão de dar continuidade à implantação do Reino de Deus na terra segue o princípio paulino em que um planta, outro rega, e somente alguns no futuro conseguem colher aquilo que somente Deus pode fazer crescer.

Assim como os setenta, também nos alegramos com o vislumbre de alguns resultados, e do mesmo modo que os setenta, expressamos a nossa alegria a Deus pelos motivos errados, e aqui entra o nosso base: Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus. Para entendermos a profundidade destas palavras precisamos recorrer a dois textos paralelos. O primeiro fala da inutilidade dos sinais visíveis: Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade. (Mt 7.22s) Sobre o assunto dos sinais e prodígios Lutero foi também enfático quando disse: Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias. Ou seja, nem mesmo os sinais mais contundentes servem de garantia para que a nossa alegria seja completa e justificada.

O outro texto é aquele em que Jesus define quem está ou não com ele. Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. (Jo 15.14) O que nos faz concluir que, para Jesus, mais importante do que a submissão dos demônios foi a obediente e cega aceitação de alguns mandamentos que reputaríamos hoje como verdadeiros absurdos: Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias; e a ninguém saudeis pelo caminho. Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem. Não andeis a mudar de casa em casa (Lc 10.3ss)

Logicamente que há muita alegria nos céu quando um pecador se arrepende, e que esta alegria será sempre maior se a conversão ocorrer por iluminação, onde a pessoa aceita o evangelho pela razão, sem ter a necessidade de passar por experiências traumáticas. Mas a nossa alegria em particular não deve se fundamentar nos resultados imediatos da nossa missão, mas pelo desejo de sermos amigos de Jesus, os amigos que vão a lugares impensáveis e fazem além do que ele manda.

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